Por Fábio Rübenich, de Araguari (MG)
SAFRAS (28) O presidente da Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), e organizador da Fenicafé, Ramon Olini Rocha, concedeu entrevista exclusiva â Agência SAFRAS, comentando sobre os assuntos em voga na cafeicultura brasileira. Tamanho da safra, discrepâncias entre estimativas, forte volatilidade nos indicadores externos, câmbio e ainda fez projeções para o
tamanho da safra cafeeira 2008 no cerrado de Minas Gerais, que começa a ser colhida a partir de maio.
Confira abaixo os principais trechos da etrevista:
SAFRAS: Tamanho da safra 2008. Enquanto a Conab enfatiza que seu número, de 42 a 44 milhões de sacas, estimativas de exportadores indicam 53 milhões de sacas, e outras entidades privadas anunciam 50 milhões. O que você acha disto, há um meio termo entre as previsões, ou preferes acompanhar a projeção oficial?
RAMON OLINI ROCHA: Se analisarmos tecnicamente, eu acredito que os números da Conab são os ais confiáveis. A entidade tem uma equipe grande, que está fazendo um trabalho local; tem o pessoal das Ematers, das associações e das cooperativas que dão um apoio grande, exportadores que também passam informações, e tem o pessoal que está no campo. Então, se observarmos o número de pessoas trabalhando para que o número da Conab tenha sido esse apresentado, e por outro lado você não conhece o corpo técnico de uma exportadora que tenha falado um número tão grande assim… então eu ficaria com o número da Conab, em função até dos últimos dois anos, quando ela apresentou números bastante dentro da realidade.
Na pós-colheita os números tem se mostrado mais dentro da realidade.
SAFRAS: Sobre o mercado. Na semana da Páscoa, vimos quedas de 15% nos preços da Bolsa de Nova York, em um espaço de quatro dias, enquanto que o mercado físico refletiu o movimento, pois no sul de Minas Gerais, a bebida boa teve perdas de R$ 40,00 no valor da saca de 60 quilos no mesmo período. O que você está achando dessas movimentações?
ROCHA: Nós sabíamos que os fundos estavam com um posicionamento alto, números recordes. Esta realização, de uma certa forma, ela já estava sendo esperada pelo mercado. Concomitante à queda nas bolsas, o dólar também sofreu uma pequena baixa, resultando desta desvalorização. O produtor, nesta queda, retém as vendas. Pois levando em conta nossos custos de produção no ano passado, esse preço que ficou no mercado físico (cerca de R$ 240,00 a saca), não paga as nossas despesas. O custo de produção deste ano, por conta da safra passada ter sido pequena, está alto. Então o produtor tenta todas as alternativas possíveis antes de vender café nesse preço, que realmente está ruim. Para se ter uma idéia, há oito anos eu vendi café a R$ 300,00. Então, não tem lógica você imaginar que o preço do café hoje está bom. Está ruim, realmente.
SAFRAS: A faixa de remuneração para o produtor aqui da região inicia em R$ 300,00 ?
ROCHA: Temos um grupo aqui de 16 produtores, reunidos pelo Sebrae, chamado Educampo, que representa bem nossa região, com 1.200 hectares e que apura números. Levando em conta dois anos, já que o café produz bem em um ano e menos no outro, houve uma média de produção no último ano de 35 sacas por hectare, e a média do custo de produção no mesmo período foi na ordem de R$ 250,00 por saca.
Se colocarmos a remuneração do capital e a depreciação do maquinário, esse custo chega próximo a R$ 270,00. Esta é a conta que temos que fazer: temos que vender café das duas últimas safras de R$ 270,00 para cima. O que preocupa? Preocupa que neste ano, que está em andamento, que o custo de produção aumentou. Energia elétrica, para os que irrigamos ela pesa muito, subiu; adubo nem precisa falar… Então nós estamos com medo do custo de produção. Aí é que está o negócio, o que nós podemos fazer: uma vez que o câmbio tem sido nosso gargalo na exportação, e não temos como mexer na taxa, com o próprio ex-ministro Maílson da Nóbrega tendo comentado na Fenicafé que a projeção para o final do ano é e R$
1,60 a R$ 1,80… então temos é que mexer no nosso custo, e aí nós emos alguns pontos que considero importantes.
Temos que comprar insumo mais barato. Como vamos conseguir uma vez que existe poucos fabricantes e nos últimos anos o mercado interno subiu mais que o externo. No Brasil, os fertilizantes subiram quase o dobro do que no restante do mundo. Então, alguma coisa está errada nesse sistema aí. Além disso, com impostos incidindo sobre esses insumos e sobre a mão-de-obra, tem nos onerado bastante, já que os insumos e a mão-de-obra são os principais itens que compõem o custo de produção. Então, nos que somos da
produção, temos que convencer o poder público a reduzir esses impostos, pois esse está sendo nosso gargalo, uma vez que não temos como mexer no câmbio. Além disso, aumentar tecnologia e mecanização para reduzir os custos.
SAFRAS: No ano passado, a região do Cerrado de Minas Gerais produziu 3,0 milhões
de sacas. Neste ano, de ciclo alto, vai ficar em quanto a produção da região?
ROCHA: Vai ficar entre 3,5 a 4 milhões de sacas. Mantive contato com um técnico da Conab que circula pelas regiões produtoras nossas, que me informou esses números. Tivemos perdas. Mesmo com lavouras irrigadas, a temperatura ficou muito alta. Mas, em contrapartida, as lavouras estão bonitas, bem folhadas, o que indica que o ano que vem não terá uma safra mixuruca, será uma safra boa. A área cultivada no cerrado está em 180 mil hectares, com 55 municípios produzindo, com produtividade média de 33 sacas por hectare, um índice alto, levando em conta que a média brasileira está na casa das 20 sacas.