Cafeicultores mineiros devem R$ 2,2 bi

30 de outubro de 2007 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Folha de São Paulo

DINHEIRO
30/10/2007 
 

Estudo de consultoria mostra o perfil de endividamento e a capacidade de pagamento dos produtores de Minas Gerais
 
Agrofolha
Para assessor do Conselho Nacional do Café, números do estudo revelam que o governo precisa tomar providências
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O atual endividamento da cafeicultura mineira é de R$ 2,2 bilhões. Desse total, R$ 1,3 bilhão é de responsabilidade direta dos produtores, enquanto R$ 894 milhões passam pelas cooperativas, dívidas que acabam sendo, em parte, também de produtores.


Da dívida de R$ 1,3 bilhão dos produtores, a maior parte -R$ 837 milhões- foi contraída com o Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira). Já as dívidas das cooperativas com o sistema bancário, anteriores a 2002, somam R$ 134,5 milhões. Em 2007, atingiram R$ 687 milhões. As dívidas fora do sistema bancário -fornecedores de insumos e CPR- atingem R$ 73 milhões.


Os dados são de estudo da consultoria Agroconsult, encomendado pelo CNC (Conselho Nacional do Café) e pelo Ministério da Agricultura.


Com esses dados em mãos, que mostram o perfil de endividamento e a capacidade de pagamento do setor, os cafeicultores têm, agora, uma ferramenta para negociar intervenções governamentais no setor.


Os dados da Agroconsult, que refletem a cafeicultura mineira, mostram que, desde a safra 2000/1, os produtores vêm acumulando prejuízos que já somam R$ 2,4 bilhões, segundo André Pessoa, sócio-diretor da consultoria. “É uma dívida de deficiência de renda”, diz ele, que não descarta algum problema de má gestão, mas insignificante nesse contexto.


“Esses números são um alerta para o governo de que alguma coisa precisa ser feita”, diz Jaime Payne, assessor técnico do CNC. Pode ser até uma orientação para a redução de produção ou busca de novas alternativas para os produtores.


Em ambos os casos, no entanto, a saída é difícil, adianta Payne. Os investimentos no café são de longo prazo e o retorno só vem depois de três anos. Uma redução de produção implicaria dar menos trato ao pé de café, mas a recuperação de produtividade depois só viria em dois ou três anos.


A troca da cafeicultura por outras culturas, principalmente nas áreas geográficas impróprias para a mecanização, também não é fácil, diz Payne. Além de novos investimentos, porque também são culturas perenes -como fruticultura e madeira-, os produtores não têm o domínio desse novo mercado.


Na avaliação do assessor do CNC, o governo tem de participar mais da cafeicultura. Medindo as palavras, Payne diz que “o governo deveria parar de brigar com os países que subsidiam a agricultura e fazer o mesmo também por aqui”. Mas, em seguida, complementa, dizendo que, na verdade, o governo já tem outros mecanismos eficientes que podem ser usados, como os contratos de opções. “O que falta é atenção para com o setor.”


Em reunião realizada no CDPC, na semana passada, quando foram divulgados os dados da Agroconsult, foi criado um grupo de trabalho para apresentar propostas ao governo. Entre as propostas, seguramente virá a de maior formação de estoques. Payne diz que não devem ser feitos estoques de forma aleatória, “mas por meio de opções públicas”.


Segundo Payne, o Brasil, mais uma vez, está na contramão do setor externo. Os preços externos se recuperaram e até remunerariam os produtores, mas a valorização do real impede essa remuneração.


Na avaliação do assessor, essa perda de rentabilidade coloca o produtor brasileiro em desvantagem com os de países que estão aproveitando o bom momento do mercado externo. São os casos de Peru e México, onde cresce a produção de arábica, e do Vietnã, que eleva a participação no café robusta.


Custos
Na avaliação da Agroconsult, os cafeicultores do sul de Minas, computados todos os custos de formação da cafeicultura, vão começar a obter os primeiros resultados após investimento total de R$ 7.864 por hectare.


Para a próxima safra, diante da recuperação do setor, os produtores vão conseguir cobrir os custos variáveis, mas a renda obtida não será suficiente para pagar todos os investimentos feitos. Com isso, na renovação do cafezal, os produtores estarão descapitalizados, na avaliação de Pessoa.


Nas estimativas da Agroconsult, os produtores mineiros vão ter ganho na próxima safra, mas nem todos. Os do sul do Estado terão prejuízo de R$ 533 por hectare na comparação dos gastos variáveis com a provável renda. Já os mais mecanizados, e que têm custos menores de produção, podem obter lucros superiores R$ 3.000, como os do cerrado mineiro.
 

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