As novas fronteiras cafeeiras

Por: ANBA / AGÊNCIA MEIOS



O café já fez muitos caminhos Brasil afora desde que aportou no Pará, no século 18. Hoje, regiões com pouca tradição no cultivo, como o Oeste da Bahia e Rondônia, avançaram no ranking cafeeiro. Na Bahia se planta o café irrigado. E Rondônia já é o segundo maior produtor de café conillon. A expansão do cultivo do fruto é a segunda matéria da série especial sobre o café.






Divulgação/Embrapa Rondônia
Rondônia: processo de migração dos cafeicultores começou nos anos 70
Rondônia: processo de migração dos cafeicultores começou nos anos 70

Cláudia Abreu, Débora Rubin e Geovana Pagel


São Paulo – Os primeiros pés de café do Brasil foram plantados no Estado do Pará, nos idos de 1700. As condições climáticas favoráveis e a dimensão do país, no entanto, contribuíram para que o cultivo se espalhasse rapidamente. O café chegou ao Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Crises econômicas, geadas e escassez de terra foram mudando o percurso da produção, indicando novos caminhos. O café fez a curva. Em Minas, novas áreas, além das tradicionais – Sul do estado e Zona da Mata –, despontaram e hoje garantem a liderança do estado na produção nacional. Regiões com pouca tradição no cultivo, como o Oeste da Bahia e Rondônia, avançaram no ranking cafeeiro.


Em Minas, as novas áreas produtoras começaram a ser exploradas em meados dos anos 80, segundo Rodrigo Pontes, agrônomo e coordenador da área de café da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). A primeira grande migração foi para o Cerrado mineiro. Os produtores vieram, principalmente, dos estados do Paraná e São Paulo. “Muitos tinham perdido as lavouras com geada. A essa situação somou-se a vontade do governo de Minas em ampliar o parque cafeeiro e foram concedidos incentivos a quem aceitou o desafio”, explica.


A estratégia deu certo. Atualmente o Cerrado responde por 18% da produção mineira – cerca de 3,9 milhões de sacas por ano. As lavouras são irrigadas e o café do Cerrado é definido como um produto diferenciado do produzido nas outras regiões do estado: tem um sabor achocolatado. 


A família Bovi é uma das representantes da safra de cafeicultores que desbravou o Cerrado. A primeira lavoura foi plantada em Marília, São Paulo. Com os custos de produção em alta e a invasão de outros cultivares, a família migrou para o Paraná. Era início dos anos 80. Em terras paranaenses, os Bovi formaram lavoura, viram a produção crescer. Até que chegou uma geada e dizimou a plantação. Muitos produtores desistiram. Os Bovi insistiram. “Meu pai foi procurar outra área”, conta Hemerson Bovi, que faz parte da terceira geração da família.


Nas andanças, os Bovi chegaram a Monte Carmelo, no Cerrado. Terra barata que precisava ser irrigada. Corria o ano de 1998, os Bovi arregaçaram as mangas e começaram novamente a plantar. Atualmente são 200 hectares. A produtividade média varia entre 40 e 50 sacas por hectare – bem acima da média nacional de 17 sacas por hectare. Na última safra, a família colheu 7 mil sacas. Café de bebida boa, o grão produzido pelos Bovi já esteve por duas vezes entre os 10 melhores do estado, segundo uma avaliação da empresa italiana Illy.


Café da chapada


A mais nova fronteira de Minas Gerais, explorada para o plantio de café, é a Chapada de Minas (Jequitinhonha), onde está a cidade de Capelinha, que concentra parte importante da produção local. Diferentemente do Cerrado, na região da Chapada são os mineiros de outras partes do estado que trabalham com café. “No Sul de Minas, há áreas que sofrem com as baixas temperaturas, as terras também custam mais. Então, muitos produtores compraram terras no Jequitinhonha nos últimos anos”, afirma Pontes. A região da Chapada já responde por 8,4% do café produzido no estado e está em plena expansão. Os projetos incluem o treinamento e a capacitação de produtores e mão-de-obra.


Tempero baiano


A irrigação das lavouras também é o fator que está dando um tempero baiano à produção de café brasileira.  A Bahia já ocupa o quarto lugar no ranking nacional, com 5,4% do total – desbancou o Paraná em 2005, que produz 5,3% do café brasileiro. A saga baiana teve início no final da década de 80, resultado da iniciativa ousada do angolano João Barata, que iniciou um projeto de plantar um milhão de pés de café na região Oeste do estado. Na época, muita gente duvidou. Insistente e com boas referências desse tipo de plantio no seu país, Barata fez inúmeros estudos de viabilidade e, em 1988, implantou os primeiros viveiros técnicos sob irrigação por aspersão fixa.


No começo foram plantados apenas 20 hectares, sendo 18 da variedade Catuaí e dois hectares do Mundo Novo. Na primeira safra, em 1990, foram colhidas em média 41 sacas por hectare da variedade Catuaí e 29 sacas por hectare da variedade Mundo Novo. O Catuaí foi definido como melhor adaptado às condições locais.


Hoje a produtividade do café irrigado no Oeste da Bahia gira em torno de 55 sacas por hectare. Na safra passada a produção de café na região, totalmente irrigada, ocupou uma área de 14 mil hectares, que deve ser mantida para a safra deste ano. No ano passado foram colhidas mais de 770 mil sacas no Oeste baiano (o estado todo colheu 2,3 milhões de sacas).


Para a próxima safra, a produção será menor, em torno de 471 mil sacas beneficiadas, média de 43 sacas por hectare. “Diversos fatores explicam a queda. A maioria das lavouras tem mais de seis safras, são mais velhas, o que acentua o efeito da bianualidade que ocorre nos cafeeiros”, explica Sérgio Pitt, vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes do Estado da Bahia (Aiba).


Segundo ele, também em decorrência da idade das lavouras, muitos produtores estão renovando seus cafezais com a poda. Assim, embora a área total se mantenha em torno dos 14 mil hectares, a área efetivamente em produção será reduzida para 11 mil. São técnicas de manejo necessárias e planejadas, para que a partir de 2008 os níveis de produtividade sejam recuperados.


O café irrigado da Bahia é exportado, principalmente, para os Estados Unidos, Canadá e países da Europa, como Espanha, Portugal, Bélgica, Suíça, Suécia e Itália.


Da borracha ao café


Em Rondônia são os produtores de pequeno porte que sustentam a cafeicultura local.  O estado é o segundo maior produtor de café conillon, perde só para o Espírito Santo, onde a produção é antiga – de 1800. No ranking nacional, Rondônia já ocupa o sexto lugar, responsável por 3,2% do café produzido no país.


Segundo Websten Cesário da Silva, agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Rondônia, o processo de migração de cafeicultores à região começou nos anos 70 e é semelhante ao que ocorreu em outras áreas do país. “Contabilizando sucessivas perdas no sudeste, os produtores vieram em busca de um eldorado para o cultivo. A maioria veio do Espírito Santo, Paraná e Minas Gerais”, afirma. Aportaram na região central de Rondônia, principalmente nos municípios de Cacoal e Ouro Preto d’Oeste, e começaram a plantar, em geral, em áreas de pastagem degradadas. Eles trouxeram conhecimento e consolidaram o plantio de café na região. Órgãos como a Embrapa também passaram a pesquisar o solo local e desenvolver espécies mais adaptadas à região. O resultado apareceu: a safra de 2005, por exemplo, foi 1,7 milhão de sacas.


Silva, no entanto, diz que o crescimento da produção está ameaçado por causa de entraves como o transporte. No ano passado, ano bom para o café, a produção de Rondônia minguou para cerca de 1,4 milhão de sacas. “O café tem ficado só no estado, pois boa parte das estradas para escoar a produção é de terra”, afirma. A cultura também tem perdido espaço para a pecuária e para a soja.


Fonte: http://www.anba.com.br/especial.php?id=336 Acessado em 26 de janeiro de 2007

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