Manejo integrado da mancha de phoma no cafeeiro

Por: 02/05/2007 22:05:08 - Café Point

Por Antônio Fernando de Souza
Engenheiro
Agrônomo
Doutorando em Fitopatologia



1 – Introdução


A mancha de phoma do cafeeiro é uma doença fúngica que ocorre em vários
países do mundo onde se cultiva café em áreas de altitudes mais elevadas.


O gênero Phoma compreende mais de 2000 espécies que estão agrupadas em nove
seções. Algumas espécies são relacionadas como importantes patógenos da parte
aérea do cafeeiro. No Brasil já foram encontradas mais de cinco espécies desse
fungo. Entretanto duas espécies são as mais conhecidas:


Phoma costarricensis, descrita pela primeira vez em 1957 na Costa Rica e
Phoma sp., descrita em 1961 na Colômbia causando danos aos cafezais localizados
acima de 1000 metros de altitude; existindo porém, diferenças morfológicas entre
suas estruturas e no modo de infectar a planta.


Independente da espécie envolvida, este fungo ataca folhas, flores, frutos e
ramos do cafeeiro, produzindo lesões bem características. Os danos causados por
essa doença se fazem refletir diretamente na produção uma vez que ocorre a morte
dos botões florais, das brotações novas, queda de frutinhos e má granação dos
frutos devido à desfolha, comprometendo o desenvolvimento e a futura produção da
planta.


Os danos indiretos causados pela doença é a desfolha e a seca das
extremidades dos ramos, que leva a uma redução na produção do ano e na produção
do ano seguinte, além de produzir uma bebida de qualidade inferior.


Ataques sucessivos da doença promovem intenso brotamento dos ramos laterais,
reduzindo o arejamento e a penetração de luz no interior do cafeeiro. Surtos
esporádicos também podem ocorrer em mudas nos viveiros ou no campo se as plantas
forem expostas a ventos frios, mesmo em altitudes inferiores a 900 m.


A mancha de phoma vêm aumentando sua importância econômica nos últimos anos
em razão dos prejuízos que causa na produção. Tem sido grande problema para
instalação de lavouras cafeeiras em regiões de altitude elevada ou nos topos dos
morros, como ocorre no Estado do Espírito Santo e algumas localidades na Zona da
Mata Mineira. As maiores perdas são verificadas em plantações sujeitas à ação de
ventos frios, principalmente nos anos com excesso de chuvas no inverno. A doença
pode limitar o plantio de café em regiões altas como nos chapadões do triângulo
mineiro, sul de Minas e oeste da Bahia.


O controle preventivo tem sido a principal medida recomendada para manejo da
doença. No artigo deste mês, iremos tratar da mancha de phoma do cafeeiro,
abordando aspectos teóricos que poderão nos auxiliar no manejo integrado da
doença no campo, visto que sua intensidade vem aumentando no campo e poucas
pesquisas vêm sendo realizadas com o objetivo de estudar melhor este
patossitema.


2 – Sintomas da doença


As lesões típicas da mancha de phoma ocorrem nas folhas do primeiro ou
segundo nó de ramos do terço superior da planta. Estas lesões localizam-se
geralmente nas margens das folhas, impedindo o crescimento nessa área e fazendo
com que a folha fique retorcida. Possui formato irregular, coloração escura e
tamanho variado, presença de anéis concêntricos de 1 a 3 cm de diâmetro.





Figura 01: Sintomas da mancha de phoma em folhas do cafeeiro
Fonte:
Antonio Souza


Estas lesões, ao serem observadas com lupa, revelam a presença de pequenas
pontuações salientes (chamadas de picnídios), de coloração marrom-clara, que
constituem o corpo de frutificação do fungo e de onde saem os esporos (também
chamados de conídios), que irão contaminar as outras folhas da planta. O fungo
sobrevive por curto período de tempo em ramos secos e folhas caídas no solo. A
disseminação do patógeno dentro da planta, e de uma planta para outra, ocorre
pelos respingos de água das chuvas ou da irrigação.


Nos ramos, o fungo penetra no local em que ocorre abscisão das folhas nos
cinco primeiros nós, devido à queda da folha causada por outras doenças ou
pragas ou ainda pela senescência natural das folhas. Os sintomas se iniciam por
uma queima ou seca dos tecidos jovens produzindo uma morte do ramo de cima para
baixo. À medida que a doença avança, as folhas começam a cair, uma vez que a
necrose afeta a parte lignificada do ramo doente, a qual prossegue lentamente
ocasionando uma seca total do ramo. Em função disso, pode-se observar
superbrotamento causado pela morte das extremidades dos ramos e formação de
grande número de ramos laterais. Quando o ataque ocorre na inserção das folhas,
sobre os ramos, a lesão progride e o ramo começa a secar, do ponto infectado em
direção à extremidade que, às vezes, continua verde. Vale ressaltar que a seca
de ramos pode ter várias outras causas de origem biótica e abiótica.






Figura 02: Sintomas da mancha de phoma em ramos do cafeeiro
Fonte:
Hélcio Costa (pesquisador do Incaper-ES)


Nas flores, no pedúnculo dos frutos e nos frutinhos, o fungo causa lesões
escuras, mumificações e queda de chumbinhos. Os frutos jovens ficam negros e
mumificados, e nos frutos já formados aparecem pontuações negras, que são as
frutificações do patógeno. Os frutos podem ser atacados em qualquer estádio de
desenvolvimento.






Figura 03: Sintomas da mancha de phoma em frutos de café
Fonte: Hélcio
Costa (pesquisador do Incaper-ES)


3 – Condições favoráveis à doença


Dependendo da espécie de Phomaenvolvida, as lesões se desenvolvem a partir de
um dano mecânico no tecido, causado por inseto ou pelo roçar das folhas tenras
umas nas outras ou injúria pelo vento.


Phoma costarricensis necessita que haja ferimento no tecido do hospedeiro
enquanto que a Phoma sp. não necessita de ferimentos prévios para seu
desenvolvimento.


A exposição das plantas aos ventos frios vindos de diferentes posições causa
injúrias (ferimentos) nas folhas, favorecendo a penetração do patógeno. Em
regiões mais frias e úmidas, a presença de vento sul e sudeste na época do
florescimento têm favorecido a ocorrência da doença no início do período de
formação dos frutos, levando a mumificação e queda desses frutos no início de
seu desenvolvimento.


Em condições de campo, a mancha de phoma se apresenta com maior intensidade
em regiões de altitudes mais elevadas (acima de 800 m) no início e final do
período de inverno, quando as condições climáticas são bastante favoráveis à
doença. Os períodos de maior incidência da doença ocorrem entre os meses de
março/abril (final do período chuvoso) e setembro/outubro (início do período
chuvoso). Vale ressaltar que, dependendo da região e das condições de clima, a
doença pode evoluir também em outros meses.


De modo geral, temperaturas entre 18º C a 19º C, chuva de granizo, entrada de
frentes frias, neblina, umidade relativa elevada e períodos prolongados de vento
frio, são os principais fatores climáticos que favorecem a doença. Estas
condições são comuns em regiões descampadas e de altitude elevada principalmente
no início e final do período chuvoso.


Em anos mais frios, nos meses de abril/maio, a infecção por Phoma pode
ocorrer juntamente com a mancha de olho pardo nas folhas e frutos do cafeeiro.
Nestas condições ocorre seca de ramos e na florada seguinte o fungo ataca flores
e frutos nas fases de chumbinho causando prejuízos consideráveis.


4 – Controle


O controle da mancha de phoma deve começar pela adoção de uma série de
medidas culturais que tem como objetivo prevenir a instalação da doença e
facilitar o controle químico, quando este for empregado. Sabemos que, em regiões
muito favoráveis, o controle químico por si só não controla satisfatoriamente a
doença.


4.1 – Algumas medidas preventivas de controle:


Os viveiros devem ser formados em locais bem drenados e protegidos contra
ventos frios e dominantes. Deve-se também controlar a irrigação, evitando o
excesso de umidade no viveiro. Recomenda-se ainda, aumentar o espaçamento das
plantas no viveiro para permitir maior arejamento e, com isto, conseguir reduzir
a severidade da doença.


A escolha da área onde será implantada uma lavoura de café é de grande
importância, por isso devem-se evitar áreas desprotegidas (como os topos dos
morros), sujeitas aos ventos fortes e frios. A implantação adequada de
quebra-vento é uma opção para as áreas em formação. Deve-se levar em
consideração que a instalação de quebra vento segue critérios técnicos, porque,
se for feita de forma inadequada, pode canalizar o vento para a lavoura e não
interceptá-lo. Dessa forma, estaria favorecendo ao invés de controlar a
doença.


Lavouras adultas, situadas em áreas onde a doença possa apresentar caráter
epidêmico, devem também ser protegidas, iniciando-se pela instalação de
quebra-ventos provisórios com plantas de crescimento mais rápido e
promovendo-se, simultaneamente, o plantio de plantas arbóreas perenes
recomendadas para esta finalidade.


Considerar sempre que, lavouras formadas em altitudes superiores a 900 m
estão mais sujeitas ao ataque do patógeno, e nessas condições, a implantação de
quebra ventos é de fundamental importância para o manejo integrado da
doença.


Adubação equilibrada das plantas evita o desequilíbrio nutricional,
diminuindo desta forma o esgotamento dos ramos produtivos, o que abriria a porta
para entrada do fungo. A redução da adubação nitrogenada em lavouras muito
enfolhadas e em áreas sujeita a neblina, ajuda a reduzir a incidência da
doença.


A aplicação da calda viçosa após o florescimento protege os frutos novos
contra a penetração do fungo, além de ajudar na nutrição da planta, fornecendo
micronutrientes via foliar para o cafeeiro.


4.2 – Controle químico.


O controle químico da mancha de phoma é oneroso, porque dependendo da região,
abrange um período muito longo de proteção. Entretanto, ele é indispensável e
deve ser recomendado de forma preventiva para lavouras com boas perspectivas de
produção, em locais onde ocorrem chuvas contínuas e temperaturas baixas, durante
o período de florescimento, e início da frutificação. Assim, devido à
instabilidade climática observada nos últimos anos e à rápida evolução da doença
no campo, quando as condições estão favoráveis, o controle químico tem sido
muito oneroso para o produtor, pois em geral são feitas três ou quatro
pulverizações com fungicidas específicos nesta época.


As aplicações de fungicidas devem ser iniciadas logo após as primeiras chuvas
(em geral, no mês de setembro) e continuadas até novembro/dezembro, caso as
condições favoráveis (umidade, frio e temperatura media abaixo de 20º C)
permanecerem. Estas pulverizações devem ser feitas a cada 30 dias visando mais a
proteção dos botões florais e dos frutos em formação.


Quando a doença for constatada no final do período chuvoso (em abril/maio)
atacando as folhas novas e os ramos do ponteiro, deve-se efetuar uma ou duas
pulverizações (em intervalo de 30 dias) com fungicidas específicos visando
reduzir a desfolha da planta, a incidência de seca de ramos e a quantidade de
inóculo residual que irá favorecer o ataque da doença na época do florescimento
e formação dos frutos. Normalmente, o controle químico da ferrugem e da mancha
de olho pardo, quando realizado com produtos a base de cobre (calda viçosa,
calda bordalesa, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e oxido cuproso),
propicia certa proteção das folhas e ramos neste período.


Existem atualmente 19 marcas comerciais de produtos registrados no Ministério
da Agricultura Pecuária e Meio Ambiente (MAPA) para o controle da mancha de
phoma do cafeeiro, sendo que destas, 11 são fungicidas sistêmicos e 9, são
protetores.


Dentre os fungicidas sistêmicos, seis marcas pertencem ao grupo químico dos
triazóis sendo que 5 produtos tem o tebuconazol como ingrediente ativo e um
produto a base de metconazol; duas marcas pertencem ao grupo das estrobilurinas,
sendo azoxytrobina o ingrediente ativo; três marcas pertencem a diferentes
grupos como anilida (boscalida); um benzimidazol (tiofanato metilico) e um
fosfonato (fosetil).
Dentre os protetores, duas marcas comerciais pertencem
ao grupo químico dos cúpricos, tendo o hidróxido de cobre como o único
ingrediente ativo registrado para o controle da mancha de phoma; duas marcas
pertencem ao grupo químico do dicarboximida (iprodione) e quatro marcas
comerciais pertencem a diferentes grupos químicos tais como triazinilanilina
(anilazina); uma guanidina (iminoctadina); uma isoftonitrila (clorotalonil) e um
organoestânico (acetato de fentina).


A eficiência de controle desses produtos tem variado de acordo com resultados
de diversos trabalhos científicos realizados nos últimos anos em diferentes
localidades do País. Portanto, a escolha de qual princípio ativo a ser utilizado
na lavoura depende da recomendação de um Engenheiro Agrônomo de sua região.


5 – Referências Bibliográficas


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cafeeiro. In: EPAMIG (ed.). Cafeicultura: Tecnologia para Produção. Belo
Horizonte: Informe Agropecuário, v.19, 1998. p.27-35.


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Ascochyta do cafeeiro. EPAMIG – Circular Técnica. No 84, v. p. 1 – 3, 1998.


JULIATTI, F.C.; SILVA, S.A. Manejo integrado de doenças na cafeicultura do
cerrado. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia setor de fitopatologia.
132p. 2001.


MATIELLO, J.B. O café: do cultivo ao consumo. São Paulo: GLOBO RURAL. 133p.
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SALGADO, M.; PFENNING, L.H. Identificação e caracterização morfológica de
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ZAMBOLIM, L.; VALE, F. X. R. d.; PEREIRA, A. A.; CHAVES, G. M. café: controle
de doenças. Doenças causadas por fungos, bactéria e vírus. In: do VALE, F. X.
R.; ZAMBOLIM, L. (eds.). Controle de doenças de plantas: grandes culturas.
Viçosa: Departamento de Fitopatologia. UFV., v.1, 1997.
p.83-140.
 


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Fonte: http://www.cafepoint.com.br:80/?actA=7&areaID=32&secaoID=86¬iciaID=35756
 

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